DIÁRIO DE PRAGA – CRÔNICA DAS MANIFESTAÇÕES ENTRE 25 E 28 DE SETEMBRO

Toni, de Portugual

O dia 25 de Setembro foi marcado pela manifestação, em frente do Ministério do Interior Checo. A exigência era que a todas as pessoas retidas na fronteiras fosse facultada a entrada. Nesse momento, havia um comboio italiano com mais de 1.000 pessoas retidas na fronteira. Um episódio interessante. Alguém do Ministério do Interior avisa que estão dispostos a falar com três pessoas na qualidade de representantes dos manifestantes. A proposta é de imediato recusada. As exigências são claras e não aceitavam a noção de representação.

No dia 26, o ponto de encontro era a Praça Miru. Era lá que se podia fazer a manifestação. As autoridades checas não tinham permitido as marchas e os bloqueios ao centro de congressos. De qualquer forma, desde a reunião no Centro de Convergência, que as pessoas tinham decidido fazer as marchas e os bloqueios. Tudo estava preparado e haveria três marchas: a amarela, a azul e a rosa. A praça tinha uma aparelhagem sonora, uma cozinha improvisada e uma tenda para garantir a assistência médica. Todas as estruturas tinham sido montadas pelos ativistas. O estado checo tinha fornecido as ambulâncias...

O Independent Media Center (IMC), levando a cabo a máxima de que toda a gente é uma testemunha, montou na Praça dois terminais, através dos quais era possível, a qualquer pessoa, escrever o que via e o que achava. Todos os artigos eram, de imediato, enviados para a Web e publicados na página da Internet do IMC. Apesar da presença policial, as marchas saíram da praça e foram, cada uma, em direção ao local que tinham proposto bloquear. Seguimos a marcha amarela. Lá seguia o Coletivo Italiano "Ya Basta!". Com as câmaras de ar e as suas proteções corporais queriam furar os cordões policiais que se adivinhavam...

Para chegar ao centro de congressos, seguindo o percurso da marcha amarela, era necessário cruzar uma ponte. A ponte estava bloqueada pela polícia de choque. Tinham colocado três carros de combate, pedidos ao exército, e dois cordões policiais na frente dos carros. As câmaras de ar foram encostadas ao cordão policial e toda a manifestação se juntou atrás. Para prevenir uma possível necessidade de fuga, as pessoas começaram desimpedir um corredor por onde toda a gente poderia fugir. Entretanto, a polícia ia enchendo a ponte com mais carros. Por volta das 15 horas, a carrinha dos "Ya basta!" avançou em direção ao meio da manifestação. Era o único meio de realizar uma assembléia com todas as pessoas que estavam na manifestação.
Dos altifalantes da carrinha começaram a sair as opiniões das pessoas e chegou-se à conclusão que o bloqueio estava feito e que a polícia tinha, ela própria, feito um bloqueio à ponte ao colocar tantos carros em cima dela.

A manifestação amarela acabou, as pessoas foram embora ou ajudar a marcha azul que estava em confrontos com a polícia... No vale, outra das entradas no centro de congressos, vê-se fumo ouvem-se disparos e granadas. Descemos por uma viela estreita em direção ao som. Pouco depois, estávamos no local dos confrontos. Havia muitas pedras no chão e o cheiro a gás lacrimogêneo. Demos a volta e do outro lado da rua mais polícia, mais pedras, mais gás. A polícia estava atrás dos escudos e havia mais um tanque do exército e dois camiões para lançar água. Do outro lado, ardia uma barricada e os passeios estavam a fornecer as pedras para atirar à polícia. O ambiente era de guerra e o cheiro a gás era muito mais intenso, respirar e ver era muito difícil. A polícia estava cercada num cruzamento... Tudo isto durou até cerca das 17 horas. Por essa hora, as pessoas foram embora e voltamos à cidade. À noite a polícia ir-se-ia vingar, mas isso é outra história.

No dia 27, tinham sido marcadas manifestações para exigir a libertação das pessoas presas no dia anterior, sobretudo à noite. A política parece ter sido prender toda a gente que parecesse ativista. A manifestação tentou sair da Praça Miru. A polícia de choque cercou-os numa rua, colocando um cordão de polícia de choque de cada lado. Muitas pessoas, que não tinham chegado a tempo da manifestação, foram-se juntando, ficando nas costas da polícia. Perante esta situação, a polícia, que já tinha trazido as carrinhas para fazer as prisões, decidiu deixar as pessoas passar as suas linhas. Houve uma breve assembléia entre os manifestantes e foi decidido sair. À noite, a manifestação foi feita na praça central da cidade antiga e a polícia, embora presente em grande número, não interferiu.

O dia 28 de Setembro começou com uma manifestação, em frente do Ministério do Interior, para pedir a libertação das pessoas presas na seqüência do S26. O ambiente era festivo, com música, balões e cartazes... O edifício estava guardado por polícia. Pouca polícia, apenas na escadaria frontal. Da polícia de choque nem rasto. Mais tarde, alguém avisa que a polícia tinha lançado um ultimato: ou as pessoas abandonavam a entrada do edifício ou a polícia prendia todos os manifestantes. Pouco passou até aparecer a polícia de choque e prender toda a gente que tinha ficado em frente ao edifício. O momento foi, ao mesmo tempo, triste e caricato. Ao prender cerca de 100 pessoas a polícia repara que não tinha carrinhas suficientes. Foi necessário pedir mais. Durante o tempo que decorreu até à chegada das mesmas, houve gente que conseguiu passar, para as pessoas que não iam presas, máquinas fotográficas, sacos, etc. Houve uma pessoas que conseguiu fugir e era notória a falta de organização da polícia. De volta ao centro da cidade, o ambiente era triste, as pessoas estavam nitidamente cansadas e sem esperança. Num cibercafé atualizamos o @zine com as últimas prisões. Pouco depois, saímos e fomos ao centro. Era lá o Centro de Informações do INPEG e queríamos saber a situação dos presos. Ao longe conseguia-se ouvir, de novo, tambores. Havia uma nova manifestação. As pessoas que não tinham ido presas tinham-se reorganizado! Apesar da forte presença policial, não houve mais detenções.

 

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