CRÍTICA PRÁTICA

 

Processos contra estudantes da UFC...

Dois processos na Justiça Federal, com investigações conduzidas pela PF, estão em andamento neste momento contra estudantes da Universidade Federal do Ceará, incluindo alguns membros e ex-membros do contra-a-corrente. O processo mais antigo, que rola desde 97, deve-se à ocupação da Reitoria da UFC, em 30 de outubro de 97, por dezenas de estudantes, após discussão e deliberação em Assembléia; neste, estão sendo processados 12 ex-diretores do DCE-UFC. O segundo, contra 4 estudantes, devido ao arrancamento dos portões do Centro de Humanidades da UFC, por centenas de (cerca de 500) estudantes, em maio de 99. Tanto em um caso como noutro, foram lutas radicalizadas, baseadas no método da ação direta e que se inseriram num movimento mais amplo de mobilização dos estudantes.

A ocupação do gabinete foi um momento importante de um movimento reivindicativo pelas reformas no Teatro Universitário, a abertura do Restaurante, contra o sucateamento do Hospital, pelo fim das taxas nas Casas de Cultura e por mais vagas nas Residências; essas as mesmas reivindicações pelas quais houve uma imensa mobilização dos estudantes da UFC durante a greve das federais em 98, mobilização que continuou ao final da greve, quando os estudantes dali decretaram greve pelo cancelamento do semestre, numa histórica assembléia de 1.200 presentes, e que conquistou a reabertura do Restaurante Universitário fechado havia sete anos (principal luta de todo aquele período) e o financiamento pela Reitoria de parte das carteiras de estudantes.

Já o arrancamento dos portões ocorreu após semanas de luta pela reabertura de dois portões da área de Humanidades da UFC, fechada por ordem da Direção do Centro, sob o argumento de que não havia segurança em deixá-los abertos, nem dinheiro para contratar guardas... ocorre que, por causa disso, o estudantes tinham que andar muito mais do ponto de ônibus até o ingresso no Centro e, ademais, sujeitos a assaltos (como de fato ocorrera). Após assembléias locais, abaixo-assinados, reuniões com a Direção do Centro, os estudantes arrancaram os cadeados desses dois portões, que foram recolocados no dia seguinte por ordem da diretora, Sra. Maria Elias. Indignados, na semana posterior, os estudantes, numa grande assembléia, arrancaram os dois portões e foram "devolvê-los" à diretora, entregando-os no seu gabinete! (Há algumas semanas, os estudantes de História, após Assembléia, arrancaram à força um bebedouro que há semestres não funcionava e o "depositaram" num buraco no meio do pátio. No dia seguinte, o bebedouro estava no lugar dele, funcionando).

Há ainda um terceiro processo, na Justiça comum, dessa vez contra um estudante da História, o companheiro André Luís. Após ter sido barbaramente espancado pela Polícia na manifestação de 18 de abril deste ano, contra a comemoração dos 500 anos, na qual houve o quebra-quebra do relógio da globo, ele é agora processado por... "desacato" à autoridade e agressão ao patrimônio público (nos confrontos, uma viatura da polícia teve o seu pára-brisa quebrado).

Esses acontecimentos marcam todo um período de mobilização no movimento estudantil da UFC, após anos de imobilismo. Esse foi um período em que a desobediência, a discussão, a democracia direta e a ação direta foram práticas buscadas e na maioria dos casos realizadas. Efetivou-se ali a constituição de toda uma geração de militantes que, após muitos anos, recolocaram em questão os problemas da luta de classes, da crítica do capitalismo, da necessidade da revolução. Esses processos cumprem, portanto, um papel disciplinador muito claro: a tentativa de repressão das lutas a partir da criminalização dos seus métodos radicais. Ora, se em 97-99, tais métodos pareciam estranhos e inaceitáveis para o Estado é porque naquele período a resistência dos explorados era ainda muito restrita e tais métodos pouco exercitados; hoje, esses métodos são amplamente usados no movimento anticapitalista internacional, pois são os métodos que os explorados sempre usam quando se rebelam contra suas condições de vida, e hoje ainda, como ontem, a tentativa é de criminalizá-los, como o fazem agora com os movimentos anti-"globalização" após as manifestações de Praga. A diferença é que, se continuam inaceitáveis ao Estado, esses métodos hoje não são mais estranhos – nem a ele, nem aos explorados.

Nós pedimos a todos @s companheir@s que divulguem esses casos e busquem desenvolver formas de denúncia e solidariedade.

A resistência ao engodo eleitoral

Realmente interessantes e instrutivas as diversas formas como os de baixo resistiram ao engodo eleitoral.

PCdoB, PT, OMC, BM, FMI...

No dia 25 de setembro, na véspera do dia de luta mundial contra o capitalismo e suas instituições, num debate na Televisão entre os candidatos a Prefeito de Fortaleza, o candidato da Coligação PT-PCdoB & Cia, Sr. Inácio Arruda, afirmou que, à frente da administração municipal, iria desenvolver seus projetos com os empréstimos do Banco Mundial – isso mesmo: Banco Mundial, irmão siamês da OMC e do FMI. Isso não causa surpresa, esse rapaz tem uma longa trajetória de defesa do capitalismo. A esse propósito, é interessante observar que o Banco Mundial anunciou a abertura proximamente de um escritório em Fortaleza (o segundo no país, após Brasília). Não há mistério para isso. A depender do governo Tasso e da Prefeitura, independente de quem tivesse vencido no segundo turno, aqui ele estará em casa...

Colômbia

Um grupo de estudantes anarquistas ocupou o Parlamento Andino, em Bogotá, na Colômbia, em final de agosto, durante a visita de Bill Clinton àquele país, protestando contra o "Plano Colômbia". Em seu segundo comunicado, intitulado "La más alta expresion de las rebeliones: su materializacion en actos", de 30 de agosto, os companheiros dizem: "É a vida mesma, o tempo histórico e a ruptura com todo tipo de ícones e tradições o que se reivindica a partir da ação consciente que cria sua própria teoria. As rebeliões contemporâneas existem muito apesar das ideologias modernas que tendem a superá-las pela via da recuperação dos fetiches, da irrupção dos cultos e da imposição de chefias e direções; ditaduras que em nome do povo materializam a outra versão da tirania".

 

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