A escola é uma fábrica!

Daniel

O surgimento da sociedade burguesa moderna caracterizou-se pela total destruição das relações feudais e, ainda mais, pela crescente "economização" da vida. Como na sociedade burguesa o que interessa é o lucro, foi necessário o aumento da acumulação de capital pela burguesia, bem como o surgimento de uma classe que não possuísse nada além de sua força de trabalho (o proletariado). Este processo tem seu início na expropriação de terras dos camponeses ingleses, durante o "cercamento", e continua com o disciplinamento desses novos despossuídos para o trabalho forçado. E é para este segundo aspecto que queremos voltar nossa atenção, especialmente para o papel fundamental das instituições disciplinares neste processo, e, assim, como as disciplinas (diversos métodos e técnicas para treinar o corpo à obediência) foram utilizados para a obtenção do máximo de utilidade.

Primeiramente, foi necessário criar um espaço disciplinar "heterogêneo a todos os outros e fechados em si mesmo", onde possa atrapalhar a atividade produtiva. Foi assim com a organização do espaço disciplinar nas escolas, nos hospitais, nas fábricas e instituições militares: a utilização dos espaços nas fábricas não são para melhorar as condições de trabalho dos operários, mas sim para a obtenção do máximo de produtividade, sem deixar de atender à constante vigilância hierárquica; portanto, vem primeiro a disposição das máquinas, depois daqueles que as utilizam. Da mesma forma nas instituições militares criaram-se espaços a serem ocupados pelos recrutas, soldados, cabos, sargentos, etc., segundo o posto hierárquico adquirido após as diversas fases disciplinares. O espaço hospitalar constituiu-se num lugar constante de vigilância e controle sobre os pacientes. As escolas não fogem dessa lógica, de utilização das disciplinas para a obediência e a produção.

Falando de disciplina, podemos dizer que é na escola onde tudo se inicia. Basta olharmos com um pouco de atenção que logo reconhecemos as semelhanças desta com as demais instituições disciplinares: muros e pavilhões separam os "alunos" do mundo exterior e de todo e qualquer contato que possa desviar sua atenção do programa ali utilizado. Predomina uma vigilância hierárquica (professor x "aluno", inspetor x "aluno"’, inspetor x professor; diretor x inspetor...), para que nem "alunos", nem professores nem inspetores possam sair da "linha". Em toda escola existe a "Turma A", com os supostos "melhores". Ora, a lógica é da produtividade e do controle: quanto mais homogênea é a turma, mais fácil identificar aqueles que perturbam a "ordem" e o bom andamento do "aprendizado".

Nas salas de aula, organiza-se um espaço analítico: distribui-se cada indivíduo em um lugar e em cada lugar um indivíduo. O professor exerce o papel de regulador, controlando as comunicações, estabelecendo-as ou sancionando-as, contabilizando as presenças e ausências, classificando os alunos segundo seus "méritos", habilidades e aptidões, vigiando o comportamento de cada indivíduo, podendo isolá-lo ou puni-lo caso o ache prejudicial ao processo de "aprendizado" do restante da turma.

Os horários são estabelecidos para a construção de um tempo integralmente produtivo. Horários de entrada, 15 minutos após os quais os portões são fechados e ninguém mais entra nem sai. Durante esse período toda a atenção deve estar direcionada às atividades ali desenvolvidas. No curto período de intervalo, os "alunos" estão livres para fazer o que bem entenderem, mas não longe do olhar atento do inspetor, e assim todo o tempo é regulado para anão perder a produtividade. É essa também a mesma lógica da organização arquitetônica do espaço, criado já com fins específicos da vigilância hierárquica e o controle social.

 

ANTERIOR
ÍNDICE
PRÓXIMA