Autonomia Operária

Proletarizad@s contra a corrente

Somos algumas/alguns proletarizadas/dos, como vocês aqui da Irmãos Fontenele. Somos proletarizad@s porque nada temos em nossas vidas a não ser nossos corpos e os nossos filhos, a nossa prole. Os nossos corpos, nossas mentes, nossos sentimentos nós somos obrigad@s, cada qual em um lugar diferente, a alugá-los aos patrões, para trabalhar e enriquecê-los.
Não somos e não queremos ser do sindicato, que só existe para negociar com os patrões um melhor modo de nos vendermos. Somos contra o trabalho forçado que nos é imposto por meia-dúzia de parasitas que se apropria do que prozuzimos porque se apropriou antes dos meios que nós mesmos construímos para produzir as coisas.(Quem fez as máquinas nas quais trabalhamos? Quem plantou os cajueiros? Quem assa as castanhas? Quem fez os prédios? Nós, @s proletarizad@s!!!)
No mundo todo @s proletarizad@s resistimos. Nós lutamos todos os dias contra o trabalho tedioso, repetitivo, contra o roubo das nossas vidas pelos patrões. Porque não podemos chamar isso que temos hoje de vida. È lá vida ter que acordar de madrugada todo dia prá ir trabalhar em troca de um salário que só permite mesmo comprar a comida e a roupa para de novo irmos trabalhar no dia seguinte? É lá vida termos que no pequeno tempo que nos sobra nos dias de folga gastar todo o dinheiro que recebemos em troca do trabalho pagando aos mesmos patrões que nos pagam para poder usar aquilo mesmo que nós produzimos? Parece piada, e de mau-gosto, termos de COMPRAR as castanhas que nós fazemos - isso se tivéssemos dinheiro para comprar castanhas tão caras -, termos de COMPRAR as coisas todas que nós mesmos produzimos. Mas é nessa piada de mau gosto que nós somos obrigad@s a viver.
Mas nós, @s proletarizad@s contra a corrente somos, como tant@s outr@s proletarizad@s no mundo todo, contra essa corrente de exploração que nos aprisiona, somos contra as correntes que nos prendem e queremos quebrá-las. Para quebrá-las, entretanto, temos que fazer justamente o contrário do que é a nossa vida de escravizad@s hoje.
A nossa escravização é não termos controle das nossas vidas e de todo o nosso tempo. A nossa libertação só pode ser, assim, nos REAPROPRIARMOS das nossas vidas, do nosso tempo, das coisas que produzimos e dos meios de produzí-las (as fábricas, as máquinas etc).
Estamos hoje submetidos ao dinheiro e ao mando dos patrões e daqueles que servem aos seus interesses, sejam os gerentes de produção que nos infernizam para aumentarmos a produção e querem controlar até nossa vontade de mijar ou então aqueles que representam os interesses dos patrões no Estado, os governadores, prefeitos, presidentes que dizem o que podemos ou não fazer com as suas leis e a sua polícia e nos roubam ainda mais através dos impostos e nos obrigam até a ir votar para "legitimar" a opressão que fazem sobre nós.
Nós bem sabemos como oTasso, aqui, é da mesma laia (e ele mesmo é dono de muitas fábricas) dos Fontenele, todos eles da mesma laia, todos vivendo às custas do nosso trabalho. A nossa libertação não pode ser feita senão por nós mesm@s. Porque se deixarmos que alguém "lute por nós" (os sindicatos, ou os partidos que dizem representar os nossos interesses) esses mesmos que dizem lutar por nós logo vão querer se colocar no lugar dos nossos atuais patrões (não foi outra coisa o que já aconteceu tantas vezes na história das lutas d@s proletarizad@s, os partidos tomando o poder em nosso nome e logo contra nós!). Eles vão querer, como já querem aqueles que se candidatam a assumir o governo (que é apenas um gerente dos interesses dos patrões), continuar a mandar e a administrar as nossas vidas, o nosso tempo, os nossos corpos e mentes.

E isso acontecerá porque, enquanto alguns lutarem "por nós" continuaremos sendo submetidos a OUTROS. Não seremos nós que decidimos sobre as nossas próprias vidas. Elas serão administradas pelos outros.Ora, se queremos nos libertar da escravização aos patrões, ao dinheiro, o que queremos é a nossa AUTONOMIA (dar a nós mesmos as regras, as normas das nossas vidas, sem ninguém para administrá-las em nosso lugar).
Só unindo as nossas resistências cotidianas é que nós poderemos fazer dessa resistência que fazemos todos os dias a recusa definitiva em continuar vendendo nossas vidas. Nós bem sabemos arranjar modos os mais diferentes para tentar escapar ao controle dos patrões, como enrolar a produção (que é um modo de recuperarmos ao menos um pouco do tempo que eles nos roubam), por isso resistimos mesmo todos os dias.
Dialogando umas/uns com as outras poderemos colocar as nossas resistências e lutas de todos os dias em contato e assim construir a nossa recusa comum, de tod@s as proletarizad@s à maquina de moer gente do trabalho assalariado. Poderemos recusar de vez a máquina que nos obriga a repetir todos os dias os mesmos movimentos, a máquina que nos transforma em robôs do dinheiro. Junt@s, podemos nos recusar a continuar a ser uma classe que vive para produzir riquezas para outros num mundo em que as riquezas que já existem são suficientes para tod@s vivermos muito bem sem precisar trabalhar horas e horas para os outros.
É para dialogar, para trocar as nossas diversas experiências de lutas que estamos aqui. Para ouvir e para falar, para aprender e para ensinar, para trocar, enfim, as experiências da nossa rebeldia e para buscar faze-la comum. Nós nos organizamos sem sindicatos , partidos ou patrões, aliás, é CONTRA ELES que nós nos AUTO organizamos. É para trocar essas experiências de autoorganização que estamos aqui. Não temos carro de som, porque não estamos aqui para falar PARA vocês mas estamos aqui para falar COM vocês. Em uma fábrica do distrito industrial, no ano passado, vários operários de uma seção se autoorganizaram e pararam a fábrica inteira contra o fim da folga aos domingos. Isso porque as pessoas conversavam umas com as outras, construindo uma confiança entre elas na sua luta comum . É para dialogar, falar das nossas experiências e ouvir as experiências de luta d@s operári@s da grendene que estamos aqui.

Proletarizad@s contra a corrente.